INTRODUÇÃO - A CASA BRASILEIRA


INTRODUÇÃO - A CASA BRASILEIRA.

Alguns aspectos presentes como constante na casa brasileira parecem ter sido herdados da tradição portuguesa.

- Uma expressiva separação entre o espaço intimo e de serviços (privado) de um lado, e o social (‘público’) de outro, que acabava sendo expressa por uma concepção fragmentada do espaço residencial fortemente característica de sociedades conservadoras patriarcais, e onde a mulher, independentemente do status, ficava restrita somente ao espaço doméstico. Os viajantes do século XIX foram unanimes em deixarem relatos de que em visita as casas do interior paulista eram muito bem-recebidos enquanto hóspedes, mas jamais tiveram contato ou mesmo haviam visto mulheres de ‘qualidade’, contato apenas com serviçais ou escravas.


 - Uma área destinada à recepção de ‘estranhos’ à família, em geral era composta de uma sala de fora (que podia ser uma varanda) e quartos de dormir isolados da parte intima/serviços. No caso das mais elaboradas residências apalacetadas das fazendas de café do século XIX, esta área destinada a estranhos era quase sempre no primeiro piso (partido mineiro de casa em encosta) onde muitas vezes havia também o gabinete/escritório do proprietário da fazenda enquanto a área social e residencial se desenvolvia no sobrado.

- A existência de uma capela que na casa bandeirista era situada a um lado do alpendre entalado da fachada, sendo o quarto de hóspedes situado do outro; ou que na casa do tempo do café situava-se no segundo andar, mas na área social (junto ao hall ou ao estar) e, possibilitando a conexão através de uma janela, do interior intimo com a lateral do altar. 



- A existência de uma cozinha de dentro que muitas vezes era também a sala de dentro (na casa bandeirista por ex.) onde a comida nos dias frios era cozinhada no piso mesmo de terra batida e a fumaça escapava pela fresta do telhado sem forro, com o madeirame enegrecido pelo fumo; e a existência de uma cozinha de fora, muitas vezes uma construção simples, alpendrada.

- Nas casas urbanas do período colonial o partido é sempre o de uma ocupação geminada em ambas as laterais do terreno com a fachada frontal alinhada com a testada do lote, lote este estreito e profundo ( 10x50m). O resultado obtido é o de uma edificação que recebe iluminação e ventilação apenas pelas fachadas dianteira e traseira, sendo que a primeira era reservada para a sala social e a segunda para a cozinha (sala intima), e o miolo da edificação era destinado às alcovas (quartos da família e dos hospedes que não possuíam janela de iluminação e ventilação). A casa ocupava cerca de um 1/3 do lote ou menos sendo que o restante era destinado a jardim, horta e criação de pequenos animais domesticos.  



- Na Vila, as casas eram algumas vezes assobradadas sendo que o piso de baixo em geral tinha função comercial e a família do comerciante ocupava o piso de cima (sobrado). 



Bibliografia de referência:
LEMOS, Carlos A. C. Casa paulista: história das moradias anteriores ao ecletismo trazido pelo café. São Paulo : EDUSP, 1999.
REIS, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo : Perspectiva, 2002.

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